A escola primária que eu frequentei fechou.
Este ano a minha escolinha construída no tempo do Salazar - um daqueles edifícios de duas salas com um recreio XL que existiam em praticamente todas as freguesias – onde a minha irmã aprendeu a ler, onde a minha mãe aprendeu a fazer contas, onde a minha avó ensinou tantas crianças, não resistiu aos novos planos e reformas de educação e fechou.
Os miúdos agora vão para uma outra escola aqui perto, maior e que está melhor equipada face às necessidades de hoje. Está certo. Concordo plenamente.
Fica aquela nostalgia de não ver mais a canalha brava a subir as árvores e a esfolar-se toda na areia grossa do recreio, como nós fazíamos. Pelo menos ali. Espero que o façam num outro sítio, mas que o façam! Tenho lembrado alguns episódios daqueles tempos (taaaaaaaaantos!!) e resolvi partilhar um deles, em forma de composição, como nos bons velhos tempos :D
“O meu recreio”
A minha escola tem um recreio. O recreio é grande, tem muitas árvores e onde o gradeamento do recreio termina, a estrada começa. É um gradeamento de ferro e é verde-escuro. Quando entramos na escola, pelo recreio, temos de subir 5 degraus, ou seja, a escola e o gradeamento estão numa cota superior em relação à estrada (eu, aos 8 anos, não diria esta frase numa composição, mas é só para visualizarem. É importante.).
Eu gosto muito do recreio; gosto muito de brincar com os meus amigos à apanhada, ao elástico e à macaca. Quando os meninos deixam, também gosto de jogar à bola. (eheheheheh… isto é verídico!).
Eu e os meus amigos gostamos muito dos vizinhos da escola e também acenamos sempre ao Sr. Carlos, que conduz o grande autocarro que passa mesmo muito junto ao recreio e que faz com que a estrada de repente pareça muito estreitinha! Um dos meus amigos bate um bocado mal daquela cabeça (mais uma coisa que eu não diria se isto fosse uma composição da 3ª classe, mas é verdade!) e um dia decidiu mostrar-nos isso mesmo. Estávamos todos no recreio e ele resolveu pôr a cabeça dele entre o gradeamento e quando a quis tirar percebeu que tinha ficado preso pelo pescoço. Ficou de quatro, com o rabo virado para a escola e com os olhos no alcatrão da estrada. O gradeamento do recreio da escola transformou-se na coleira dele! Ah ah ah! Foi muito engraçado! (isto eu escrevia) Ele começou a chorar quando percebeu que estava preso e chorou ainda mais quando lhe começamos a gritar “Vem aí o Sr. Carlos!! Vem aí! E vai bater com o autocarro na tua cabeça gorda e vazia!”. Entretanto, a nossa professora e a dona Deolinda (a funcionária) ouviram as nossas gargalhadas e os gritos do meu amigo e vieram ajudá-lo ao mesmo tempo que nos mandavam calar. O vizinho da frente também ouviu e foi ele que trouxe e usou uma ferramenta para alargar as duas barras de ferro que estavam a prender o pescoço do coitado.
Voltámos todos para a sala e todos ouvimos um grande sermão: nós porque não ajudamos o nosso amigo e ele porque foi burro e meteu a cabeça onde não devia.
Acabou o recreio. Amanhã há mais.
Ah! O autocarro do Sr. Carlos só passou dali a meia hora.
:)
14 de setembro de 2010
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1 comentários:
aw, também recordo com bastante saudade os tempos passados na primária e no infantário. Isso é que era carpe diem. Planos a longo prazo? who cares,o que interessa é o aqui e agora!
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